Reconhecer os sintomas e adotar medidas simples pode fazer toda a diferença na qualidade de vida do felino
A vida dos gatos mudou bastante nas últimas décadas. De caçadores independentes, que percorriam grandes territórios ao ar livre, eles passaram a viver em ambientes internos, cercados por estímulos típicos da vida doméstica: barulhos constantes, presença de visitantes, mudanças frequentes na casa, novos animais de companhia e, em alguns casos, até a solidão prolongada. Para uma espécie altamente territorial e sensível como a felina, esses fatores podem desencadear níveis significativos de estresse.
“Quando o gato não se sente seguro, sua resposta comportamental pode variar de atitudes sutis, como se esconder e evitar contato, até reações mais preocupantes, como automutilação por lambedura excessiva, agressividade inesperada ou recusa alimentar”, detalha Mariana Raposo, médica-veterinária gerente de produtos da Avert Saúde Animal.
Esses comportamentos não são “birras”, mas sinais claros de que o animal está com uma sobrecarga emocional. E é nesse ponto que entra a importância de estratégias preventivas para garantir a manutenção do bem-estar do felino.
Uma das soluções que ganhou destaque nos últimos anos é o uso de análogos sintéticos de feromônios felinos, que reproduzem mensagens naturais que os gatos já utilizam entre si. Ao liberar no ambiente substâncias que imitam os feromônios faciais (F3) que são associados ao bem-estar, como os que o gato deposita ao esfregar o rosto em móveis ou pessoas, cria-se uma atmosfera de familiaridade. “Isso atua diretamente no cérebro, especialmente no sistema límbico, responsável pelas emoções, promovendo sensação de segurança e estabilidade. Em situações de mudança, introdução de novos animais, viagens ou até períodos de ruído intenso, como fogos de artifício, esses feromônios funcionam como um “sinal invisível” de que tudo está sob controle”, explica a profissional.
Mas os avanços não param por aí. Hoje também existem suplementos nutricionais feitos com a proteína hidrolisada do leite, que auxiliam a prevenir respostas comportamentais relacionados ao estresse, auxiliando no manejo comportamental e bem-estar dos animais.
“Esses tipos de recursos podem ser utilizados em qualquer fase da vida, especialmente em pets que demonstram maior sensibilidade emocional, atuando de forma complementar às medidas ambientais e comportamentais”, detalha Mariana.
Outro ponto fundamental ao pensar no bem-estar dos felinos é o enriquecimento ambiental. Brinquedos interativos que liberam petiscos, arranhadores estrategicamente posicionados, prateleiras para escalada e até simples caixas de papelão cumprem um papel importante no estímulo físico e mental. “Ao permitir que o gato expresse seus comportamentos naturais de caça, marcação e exploração, reduz-se a frustração acumulada em ambientes fechados. Além disso, o envolvimento ativo do tutor nessas interações cria um vínculo de confiança que fortalece a segurança emocional do animal”, afirma Mariana.
Por fim, o tutor não deve subestimar o poder da rotina. Alimentar, brincar e interagir em horários regulares traz ao gato previsibilidade, algo extremamente valioso para uma espécie que gosta de controle sobre seu território e sobre as situações ao seu redor. Pequenas mudanças podem gerar grande desconforto, mas quando o tutor oferece constância, o animal se sente mais protegido diante das inevitáveis variações da vida cotidiana.